25 de abr. de 2015

Caminhar, despedir, caminhar....


Este ano de 2015 tem sido um ano de despedidas para mim. Nesses quatro primeiros meses do ano me despedi de minha avó, de minha tia, de meu irmão, minha cunhada e minha sobrinha e também de minha prima, meu “primo” e suas duas filhas. As despedidas de minha avó e de minha tia foram definitivas, não as verei mais. As de meu irmão e prima, e suas respectivas famílias, são relativas, pois entre nós há agora uma grande distância no espaço. Graças à tecnologia poderemos nos falar e nos ver, mas sem abraços, sem toque, sem cheiro.

Despedir-me dessas pessoas queridas foi e está sendo doído. Não poder mais estar com elas, mesmo que fosse apenas algumas vezes por ano ou ao telefone, é algo bastante desconcertante. Ficar com esse vazio é uma tarefa difícil de digerir. O que podemos fazer? Chorar, lamentar, relembrar, revisitar e revirar diversas situações ligadas à quem se foi, tentando, de alguma forma, dar conta dessa coisa que chamamos de separação, e diante da qual, por mais esforços que fizermos, nunca estaremos imunes.

Junto à dor dessas separações me veio um “recado”. Tive a clara sensação de que ao me despedir estava sendo lembrado de uma condição fundamental, daquilo que nos esquecemos facilmente no decorrer da vida, principalmente quando as coisas sequem um fluxo que consideramos favorável. A despedida é o momento em que podemos entrar em contato direto com a impermanência, não apenas daquela situação da qual estamos nos despedindo, mas de tudo o que nos envolve. Despedir-se é reconhecer que não podemos manter, que não podemos permanecer. É reconhecer que, fechar firmemente as mãos não impede que aquilo que seguramos vaze pelos nossos próprios dedos. Despedir é desfazer um pedido, um desejo, é abrir mão dele.

Todos nós sabemos dessa condição, embora isso nem sempre se torne claro. Em um desses momentos para superar a separação, relembrando situações compartilhadas no passado, me ocorreu que, por muito tempo, pela pouca idade e pouca experiência de vida, eu não percebia que em todas, absolutamente todas, experiências que vivi havia sempre um pequeno adesivo colado à elas com a seguinte inscrição: “Isso é Transitório”. O aviso estava ali o tempo todo, eu é que não percebia, eu é que encarava o transitório como eterno e permanente, eu que achava que as nuvens permaneceriam flutuando no céu sempre com as mesmas formas. Quanto sofrimento não se origina desse equívoco?

A despedida pode ser o momento revelador dessa condição transitória de tudo. Pode ser a oportunidade de vermos o adesivo e lembrarmo-nos de nossa condição. Valiosa brecha que permite sabermos que toda natureza pulsa em ciclos com começo, desenvolvimento e fim, e que fazemos parte desse movimento. Não estamos sós, toda a criação compartilha dessa mesma condição, embora achemos firmemente que somos únicos e independentes, apenas por que assim o desejamos.